Força Tarefa da Lava jato | "Faça o que eu digo, não faça o que eu faço"

Quando lhe foi conveniente, a equipe liderada por Deltan Dallagnol se aproveitou da falta de normas claras sobre compartilhamento de provas no Ministério Público para “dar uma olhadinha” em investigações de colegas, mostram conversas de Telegram entregues ao Intercept.

The Intercept Brasil - Desde que foi obrigada a entregar seu banco de dados à Procuradoria-Geral da República, no início de julho, a força-tarefa da Lava Jato vem dizendo que o compartilhamento de informações de investigações sigilosas é indevido e deveria ser pontual, feito apenas mediante justificativa cabível e pedido formal.

Mas nova reportagem de Rafael Neves mostra que – quando lhe foi conveniente – a equipe liderada por Deltan Dallagnol se aproveitou da falta de normas claras sobre o compartilhamento de provas no Ministério Público Federal para “dar uma olhadinha” informal em investigações de colegas.

Assim, semanas antes da condução coercitiva de Lula, em 2016, a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba teve acesso a uma investigação sigilosa tocada por colegas de Brasília sobre o ex-presidente. Oficialmente, ela só seria compartilhada um mês depois por procuradores do Distrito Federal.

Em 7 de fevereiro de 2016, o procurador do MPF Julio Noronha destacou a importância de a força-tarefa acessar telegramas trocados entre o Itamaraty e autoridades de Angola, Cuba, Panamá, República Dominicana e Venezuela, no intuito de encontrar algum indício de lobby do ex-presidente para favorecer a Odebrecht nesses países. O colega Roberson Pozzobon respondeu: “Exatamente. Tvz pudéssemos dar uma ‘olhadinha’ antes. Pedir para os colegas mandarem informalmente uma cópia integral digitalizada”.

O "jeitinho" encontrado pelos procuradores tinha como objetivo levantar mais informações para compor um caso forte que lhes servisse para garantir que Lula seria processado em Curitiba. É mais um indício de que o método investigativo da Lava Jato era pautado por interesses políticos e pessoais antes das normas legais.

Leia matéria completa do The Intercept Brasil.

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