É falsa a afirmação de que a ativista Greta Thunberg se calou diante das queimadas que atingem a Austrália em larga escala. Seguidores de Jair Bolsonaro reproduzem a afirmação nas redes sociais sem nenhuma fonte segura, uma vez que o presidente usou sua live para atacar a jovem ativista e questionar a atuação, enquanto o secretário especial de Aquicultura e Pesca, Jorge Seif Júnior, servia de "papagaio de pirata", respondendo apenas que "não".
Greta Thunberg não silenciou diante da escalada de incêndios na Austrália
Iniciada em setembro de 2019, a temporada tradicional de incêndios na Austrália alastrou-se em cinco dos oito estados australianos e, nos últimos dias, viu dezenas de focos ficarem fora de controle nas cidades e no campo. Durante todo esse período Greta Thunberg questionou o governo australiano denunciando as políticas que favorecem a indústria do carvão australiana, que tem impactos diretos nas mudanças do clima.
Em dezembro passado, a ativista Greta e o primeiro-ministro da austrália, Scott Marrison trocaram farpas nas redes sociais, Marrison reafirmou seu compromisso com a indústria de energia "suja" respondendo a ativista: “Não vou eliminar o emprego de milhares de australianos com o afastamento das indústrias tradicionais”. No fundo a prerrogativa da geração de empregos é uma cortina de fumaça para que não haja comprometimento com processos de geração de energias renováveis.
Na ultima quinta-feira, 02, foi a vez do presidente Jair Bolsonaro lançar seu veneno logo na primeira live do ano chamando novamente a jovem ativista de "pirralha" e continuou: "Aquela menina lá, aquela pequeninha (sic) falou alguma coisa também?", enquanto o secretário especial de Aquicultura e Pesca, Jorge Seif Júnior, que o acompanhava na live e respondia que "não".
Ponderando que Greta Thunberg sabe diferenciar uma queimada proposital - criminosa - quando há intenção voltado para interesses econômicos, como ocorre na Amazônia, quando o fogo é ateado aproveitando o clima quente e seco para abrir caminho para novos pastos e plantações de soja, as narrativas de Bolsonaro e seus seguidores, confirmam duas coisas: A primeira é que Greta não é estupida e a segunda é que além de mal intencionados, esse pessoal da turma do "fake news", realmente não checa fontes e dissemina ódio e mentiras, são verdadeiros e obedientes "soldados virtuais" da "milícia digital".
Mas a narrativa do "tuiteiro", "youtuber" presidente do Brasil serviu como uma luva aos seus seguidores que desde então intensificaram esse mesmo questionamento em tom de afirmativa, todavia é fato que, assim como Bolsonaro, seus seguidores jamais se deram o trabalho de fazer qualquer busca na internet ou nas redes sociais da ativista sueca que sacode o mundo e mobiliza milhões de pessoas pela emergência climática.
O negaciosismo climático de Bolsonaro não se ancora em bases científicas, pois claramente, o engessado é do tipo que não tem o menor conhecimento científico ou mesmo interesse, essas narrativas contra as mudanças climáticas tem moradia na subserviência à Trump - Outro negacionista - o que é o bastante para o posicionamento, é o velho "aonde a vaca vai, o boi vai atrás".
Foto da Austrália publicada por Greta Thunberg em suas redes sociais
Greta Thunberg tuitou e retweetou diversas vezes sobre as queimadas na austrália e recentemente publicou nas suas redes sociais: "A Austrália está pegando fogo. E o verão lá apenas começou. 2019 foi um ano de calor recorde e seca recorde. Hoje a temperatura fora de Sydney era de 48,9 ° C. Estima-se que 500 milhões de animais (mortos) estão mortos por causa dos incêndios florestais. Mais de 20 pessoas morreram e milhares de casas foram incendiadas. Os incêndios emitiram 2/3 das emissões nacionais anuais de CO2 das nações, de acordo com o Sydney Morning Herald. A fumaça cobriu geleiras na Nova Zelândia distante (!), Tornando-as quentes e derretendo mais rapidamente por causa do efeito albedo.E ainda. Tudo isso ainda não resultou em nenhuma ação política. Porque ainda não conseguimos estabelecer a conexão entre a crise climática e o aumento de eventos climáticos extremos e desastres naturais, como os #AustraliaFires
Isso tem que mudar.
E isso tem que mudar agora. Meus pensamentos estão com o povo da Austrália e os afetados por esses incêndios devastadores."
Incêndios na Austrália
A temporada tradicional de incêndios no país alastrou-se em cinco dos oito estados australianos e, nos últimos dias, viu dezenas de focos ficarem fora de controle nas cidades e no campo. Até o momento 23 pessoas haviam morrido, dezenas desaparecidas e cerca de 100 mil haviam sido desalojadas.
As regiões mais atingidas estão localizadas em Victoria e Nova Gales do Sul, no sudeste do país, onde mais de 50 mil pessoas ficaram sem energia, muita gente está sem acesso à água potável e alimentos básicos como pão e leite que têm sido disputados nos mercados. O governo de Nova Gales do Sul, onde fica Sydney, a maior cidade do país, declarou emergência permitindo que autoridades removam moradores à força.
A área atingida até ontem, era de 58 mil km², extensão um pouco maior que do estado da Paraíba. A crise de incêndios na Amazônia em 2019, para efeitos de comparação, devastou cerca de 9.000 km². Imagens das cidades de Sydney, Melbourne e Mallacoota mostram que o céu está vermelho vivo por causa do fogo, e na Nova Zelândia geleiras adquiriram tons de marrom após o contato com a fumaça e as cinzas.
Até meio bilhão de animais pode ter morrido na Austrália por causa do fogo, estimam cientistas. Entre eles estão cerca de 8.000 coalas, quantidade que equivale a um terço dos animais que vivem em um dos habitats para coalas mais populosos da Austrália, ao norte de Sydney.
A situação agora se agravou porque a Austrália passa pela fase positiva do dipolo do Índico e a fase negativa do Modo Anular Sul, segundo cientistas. Ambos favorecem o aumento da seca. Além disso, os ventos da Antártida interagiram com uma grande onda de calor no último ano, levando grandes quantidades de ar seco e quente para o sul do país.
Ao mesmo tempo, as monções chegaram mais tarde que o previsto na Austrália em 2019, possibilitando que mais calor se acumulasse na parte central do país nos últimos meses. Isso tudo, somado a fatores de longo prazo, como o aumento generalizado das temperaturas e das secas, tornou a vegetação local muito mais vulnerável à inflamação.
Quais os sinais da crise climática
Ao menos duas situações inéditas mostram os efeitos da crise do clima na Austrália. A primeira foi a dupla quebra de recordes de temperaturas diárias no país — no dia 17 de dezembro, foram registrados 40,8ºC e, no dia 18, 41,8ºC. A segunda é a sequência de três invernos com baixo índice de chuvas, apontando para um estado de aridez prolongada.
Com informações do The New York Times e Nexojornal


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