Jack Johnson enfrentou um problema muito maior do que qualquer adversário, a justiça do seu país, que o prendeu em 1912 por supostamente estar “traficando uma mulher branca para fins imorais como a prostituição”. Na verdade, ele estava viajando com a própria esposa, Lucille Cameron, mesmo assim, foi condenado por um júri composto apenas por brancos
Jack Johnson, primeiro negro campeão dos pesos pesados, nocauteou Jim Jeffries
Popularmente conhecido como Jack Johnson, John Arthur Johnson, nasceu no dia 31 de março de 1878, em Galveston, no Texas e faleceu em 10 de junho de 1946, aos 68 anos, devido a um acidente de carro em Raleigh, no estado da Carolina do Norte. Seu cartel foi de aproximadamente 104 lutas, com 73 vitórias (40 por nocaute), 13 derrotas e 10 empates.
Em uma época de extrema segregação racial nos EUA, Johnson, filho de ex-escravos e terceiro entre nove irmãos, estudou durante apenas cinco anos e abandonou a escola para trabalhar nas docas.
Seu início no boxe foi por volta de 1897, mas só enfrentou um adversário famoso em 1901, Joe Choynski, que apesar de nunca ter sido campeão mundial, foi incluído no Hall da Fama Internacional do Boxe, por ter sido um excelente lutador.
Esta luta mudou para sempre a história de Johnson, não pelo fato de ter sido nocauteado no 4° round, mas por ambos terem sido presos após a luta (naquela época, lutar profissionalmente era proibido no Texas) e se tornarem grandes amigos, já que ficaram na mesma cela durante o período em que foram encarcerados, aproximadamente um mês. Depois disso, o veterano Choynski passou a ser o treinador de Jack Johnson.
Com um estilo de luta muito defensivo, sempre esperando um erro do adversário para acertar um golpe preciso e cauteloso, era sempre muito criticado pela imprensa racista da época, mas isso não lhe impediu de conseguir grandes resultados na carreira.
A segregação racial daquele período não permitia a um lutador negro enfrentar os melhores lutadores daquele tempo, já que todos eram brancos e se recusavam a enfrentar afrodescendentes, apesar de já existirem lutas inter-raciais. Então, antes de pensar em ser campeão mundial, o filho de escravos precisava buscar o título entre os lutadores de sua etnia.
Apesar de oficialmente ter apenas doze lutas em seu cartel até 1902 (nove vitórias e três derrotas), ano em que enfrentaria John Haines e depois Hank Griffin, Johnson já tinha vencido mais de 50 lutas, enfrentando oponentes brancos e negros.
Após vencer ambas as lutas, Johnson enfrentou e venceu por pontos (luta teve 20 rounds) o dono do cinturão, Denver Ed Martin, sagrando-se campeão mundial negro dos pesos-pesados e isso lhe deu condições para desafiar o campeão mundial, o excelente, porém racista, James Jeffries, que se recusou a disputar o cinturão dos pesados com um negro, já que isso era inaceitável perante a sociedade branca.
Antes de desafiar novamente o campeão mundial, defendeu o seu título contra o ex-campeão mundial negro Frank Childs em 21 de outubro 1902 e venceu por nocaute no 12° round, pois Childs desistiu do combate por ter deslocado o cotovelo e nunca mais reivindicou o cinturão dos negros.
Até ser campeão mundial em 1908, Jack Johnson enfrentou um lutador chamador Joe Jeanette sete vezes, com 4 vitórias e dois empates e apenas uma derrota, em 25 de novembro de 1905, fazendo com que Johnson reivindicasse o título negro novamente. Em 1907, após desafiar novamente James Jeffries e ser rejeitado mais uma vez, enfrentou o ex-campeão Bob Fitzsimmons e venceu por nocaute no segundo round.
Para finalmente ter seu pedido de desafio atendido, o ex-funcionário das docas perseguiu o novo campeão mundial (Tommy Burns, nascido no Canadá) por vários lugares do mundo, sempre lhe desafiando e insultando perante o público e a imprensa. Pelo valor de US$ 30.000 oferecidos pelos promotores do evento (era isso ou o campeão não lutaria), Burns aceitou o desafio e foi derrotado no dia 26 de dezembro de 1908, com a luta sendo interrompida pela polícia, no 14° round. O árbitro escolheu Johnson como vencedor diante de 20000 espectadores.
A ira racista cresceu naquele momento e durante todo reinado de Johnson como campeão mundial (1908-1915) houve um movimento chamado “Grande Esperança Branca”, onde todos queriam que o título mundial fosse tirado de um lutador negro. A imprensa dos EUA fez questão de publicar várias mensagens racistas em seus textos e os promotores de eventos colocaram o campeão mundial frente a frente com vários lutadores representantes da “Grande Esperança Branca”, no final, todos foram vencidos por Johnson, inclusive o campeão dos pesos médios, Stanley Ketchel, que teve seus dentes presos na luva direita do campeão pesado após receber um uppercut e ser nocauteado.
Um dos fatos mais importantes da carreira desse excelente boxeador foi a luta do dia 4 de julho de 1910 contra o ex-campeão James Jeffries, que estava aposentado desde 1905 e voltou aos ringues apenas “para provar que um homem branco é melhor que um negro”. Esse combate, que aconteceu em Reno, no estado norte-americano de Nevada, ficou conhecido como a “Luta do Século” e diante de 22000 pessoas (em sua grande maioria gritando coros racistas contra Johnson), o campeão dos pesados derrubou o seu oponente no 15° round e tornou a derrubá-lo outra vez, fazendo com que o público pedisse o encerramento da luta para que a “grande esperança branca” não fosse nocauteada, lembrando que Jeffries havia se aposentado invicto, sem nunca ter sido derrubado por ninguém até então.
Aquela vitória deixou a parte negra dos EUA muito feliz, que viram aquele êxito como um avanço racial, por outro lado, gerou vários ataques racistas por todo o país, já que os brancos se sentiram humilhados com a derrota. Ao todo, houve agressões e linchamentos a afro-americanos em mais de 25 estados e 50 cidades, deixando mais de 20 mortos e centenas de feridos.
Durante seu reinado como campeão mundial, Jack enfrentou um problema muito maior do que qualquer adversário, a justiça do seu país, que o prendeu em 1912 por supostamente estar “traficando uma mulher branca para fins imorais como a prostituição”. Na verdade, ele estava viajando com a própria esposa, Lucille Cameron, mesmo assim, foi condenado por um júri composto apenas por brancos a um ano de prisão em junho de 1913, cumprindo a pena apenas em 1920, já que fugiu com a esposa para o Canadá e depois para a França, passando pela América do Sul, México e outros países da Europa, entregando-se para as autoridades americanas apenas sete anos depois.
Em 5 de abril de 1915, na cidade de Havana, em Cuba, Johnson perdeu o cinturão para Jess Willard, que o nocauteou no 26° round de uma luta programada para ter 45. O cansaço e os golpes levados no corpo acabaram contribuindo muito para a perda dessa luta. Essa derrota aliviou a parte branca dos EUA e acabou com o movimento “Grande Esperança Branca”, já que os caucasianos recuperaram o título. Nunca houve um campeão de boxe tão impopular quanto Jack Johnson, odiado tanto pelo povo, quanto pela mídia branca, que sempre falava mal dele na primeira oportunidade que tinha.
Apesar de continuar lutando profissionalmente até 1938, quando já estava com 60 anos, Johnson nunca mais tentou reconquistar o título de campeão mundial negro. Sua última luta foi em 1967, contra Joe Jeanette, em um evento beneficente para as instituições militares dos EUA.
Em 10 de junho de 1946, aos 68 anos, Jack Johnson sofreu um acidente de carro numa pequena cidade perto de Raleigh, após correr com raiva de um restaurante que se recusou a lhe servir e acabou falecendo no hospital. Foi enterrado no cemitério de Graceland, em Chigaco, ao lado de sua primeira esposa, Etta Terry Duryea, que havia cometido suicídio em 1912.
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