RACISMO NO FUTEBOL | “NEGAR E SILENCIAR É CONFIRMAR O RACISMO” DIZ ROGER MACHADO, TÉCNICO DO BAHIA

"A bem da verdade é que dez milhões de indivíduos foram escravizados. Mais de 25 gerações. Passou pelo Brasil Colônia, passou pelo Império e só mascarou no Brasil República."
     Foto: EC Bahia / Divulgação

Após a partida entre Fluminense x Bahia, um dos dois técnicos negros que comandam equipes na Série A do Campeonato Brasileiro, Roger Machado deu uma longa entrevista expondo o racismo estrutural arraigado na sociedade brasileira que, com naturalidade, tenta negar que o racismo seja realidade no país. 
Roger Machado, quando perguntado sobre a campanha contra o racismo em que ele e Marcão, treinador do Flu, usaram uma camisa que estampava a frase “chega de preconceito”, o treinador do clube baiano repetiu o discurso que já havia encampado e disse "não deveria chamar atenção ter repercussão grande dois treinadores negros na área técnica" e durante a coletiva após a partida, embasado por números escancarou o racismo institucionalizado.


“Negar e silenciar é confirmar o racismo”

"A medida que a gente tenha mais de 50% da população negra e a proporcionalidade não é igual. A gente tem que refletir e se questionar. Se não é há preconceito no Brasil, por que os negros têm o nível de escolaridade menor que o dos brancos? Por que a população carcerária, 70% dela é negra? Por que quem morre são os jovens negros no Brasil? Por que os menores salários, entre negros e brancos, são para os negros? Entre as mulheres negras e brancas, são para as negras? Por que que, entre as mulheres, quem mais morre são as mulheres negras? Há diversos tipos de preconceito. Nas conquistas pelas mulheres, por exemplo, hoje nós vemos mulheres no esporte, como você, mas quantas mulheres negras têm comentando esporte? Nós temos que nos perguntar. Se não há preconceito, qual a resposta? Para mim, nós vivemos um preconceito estrutural, institucionalizado."
O técnico não se ateve apenas aos dias atuais, mas relembrou períodos escravocratas, "A bem da verdade é que dez milhões de indivíduos foram escravizados. Mais de 25 gerações. Passou pelo Brasil Colônia, passou pelo Império e só mascarou no Brasil República." disse Roger.
Encerrando a entrevista, Roger Machado combateu a premissa do negacionismo perpetrado por parte sociedade brasileira, usando seu exemplo de um negro técnico de um time da Série A, para mostrar que ele é exceção, e que isso é prova de que o racismo existe.
"A gente precisa falar sobre isso. Precisamos sair da fase da negação. Nós negamos. Ah, não fala sobre isso, porque não existe racismo no Brasil em cima do mito da democracia racial. Negar e silenciar é confirmar o racismo. Minha posição como negro na elite do futebol, é para confirmar isso. O maior preconceito que eu senti não foi de injúria. Eu sinto que há racismo quando eu vou no restaurante e só tem eu de negro. Na faculdade que eu fiz, só tinha eu de negro. Isso é a prova para mim. Mas, mesmo assim, rapidamente, quando a gente fala isso, ainda tentam dizer: Não há racismo, está vendo? Vocês está aqui. Não, eu sou a prova de que há racismo porque eu estou aqui", finalizou Roger Machado.



O Esporte Clube Bahia tem se destacado por suas campanhas sociais arrojadas, o trabalho é desenvolvido pelo Núcleo de Ações Afirmativas (NAA) do Bahia entre as abordagens, uma criança vestida com a camisa do time escreve cartas a um pai ausente. No Brasil, segundo estudo feito pelo Conselho Nacional de Justiça em 2013, tem mais de 5,5 milhões de crianças sem o nome do pai no registro.
Campanhas em favor da demarcação de terras indígenas, contra o racismo, o machismo e a homofobia, desenvolvidas com efetividade desde que o NAA foi criado, em janeiro de 2018.

O Observatório da Discriminação Racial no Futebol, até maio deste ano, apontou 14 denúncias de racismo, o instituto faz um mapeamento dos casos de racismo no esporte e produz relatórios anuais desde 2014, das 14 denúncia, 12 foram em estádios e duas registradas no ambiente da internet.


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